Às vezes, a palavra
"não" pode ser um instrumento ríspido demais, que provoca
vergonha e sentimentos de rejeição no interlocutor. Ou pode ser um
grito de guerra, que produz resistência imediata e incita a outra
parte a reagir.
É muito fácil usar e
abusar do "não", particularmente com as crianças, e assim o
termo vai perdendo sua força e credibilidade. As crianças aprendem a
ignorá-lo ou a acreditar que, na realidade, quer dizer "talvez".
Precisamente por ser
tão poderoso, o "não" deve ser empregado com cautela, parcimônia
e intenção clara. Muitas vezes é melhor usar outras palavras para
transmitir a mesma mensagem. Em outras ocasiões, é possível dizer um
"não" categórico, sem efetivamente pronunciar a palavra.
Vejam os seguintes
exemplos:
- No meio de uma
consulta médica, a filha de cinco anos insiste com seu pai que ela
quer ir embora. "Querida, nós vamos ficar", responde calmamente pai.
- Na tentativa de obter
um preço menor, um cliente insiste em desmontar a oferta de uma
empresa de limpeza, separando os produtos de limpeza dos serviços de
treinamento e gerenciamento. "Nosso produto é um pacote completo",
responde o representante da empresa.
- Ao telefone, ouvindo
um bombardeio de insultos lançados por um importante investidor, o
executivo de um hotel responde calmamente: "Entraremos em contato
com o Sr. Amanhã, sem falta", e desliga o telefone – para todos os
efeitos dizendo "não" ao comportamento do cliente.
Em todos esses
casos, o significado e poder do "não" foram transmitidos claramente,
mas sem que a palavra fosse proferida. O "não" permaneceu
subentendido, tácito.
Uma opção é focar a
atenção no "sim" inicial e no "sim" final, deixando o "não"
implícito.
Por exemplo: diante
da perspectiva de uma longa viagem de carro com um amigo que fala
demais, você pode anunciar: "Que dia!… Hoje só quero um pouco de paz
e tranquilidade. O que você acha de irmos ouvindo um pouco de música
em silêncio para relaxar?" Em outras palavras, basta apenas
apresentar a sua posição e complementá-la com uma proposta concreta.
Outra opção é
reformular o "não" como um "sim". Em vez dizer a seu filho:
"Nada de brincar enquanto não acabar a lição de casa", você diz:
"Você poderá brincar assim que terminar a sua lição".
Em vez de dizer a um
colega de trabalho: "Não posso ajudá-lo enquanto eu não acabar
este serviço", diga: "Terei o máximo prazer em ajudá-lo assim que eu
completar este serviço".
Em vez dizer a um
amigo: "Não irei com você ao jogo", diga: "Encontro você logo
depois do jogo". Em outras palavras, coloque o seu foco no positivo
ao mesmo tempo em que estabelece os limites necessários.
Maneiras indiretas
de dizer "não" podem ser confusas – Algumas culturas,
particularmente as do leste da Ásia, não poupam esforços para
idealizar maneiras de dizer "não" sem empregar realmente a palavra,
evitando assim envergonhar o interlocutor e permitindo a ele salvar
as aparências.
Porém, o fato de não
usarem a palavra "não", não significa que não digam o "não",
apenas que buscam maneiras indiretas de fazê-lo, como recorrer a
terceiros ou lançar sinais discretos e sutis. Isso pode ser muito
confuso para aqueles que não forem bem versados na semiótica de uma
cultura diferente.
Veja este caso: Durante
um trabalho que realizei para uma grande empresa automobilística
norte-americana, soube do caso de um alto executivo que foi visitar
a Coréia do Sul e se reuniu com o presidente de uma montadora
coreana.
Na época, a empresa
dos EUA detinha 10% das ações da empresa coreana e o executivo
propôs a seu colega que essa participação aumentasse para 50%. "Isso
não é impossível", respondeu educadamente o executivo coreano.
Analisando essa
resposta, o executivo norte-americano raciocinou: "Se "isso não
é impossível", significa então que é possível". De modo que, quando
voltou para Detroit, enviou uma equipe de alto nível até Seul para
fechar o acordo.
Mas, durante duas
semanas, nada aconteceu, pois cada reunião marcada era sempre e
inexplicavelmente adiada. Por fim, um gerente coreano levou seu
colega norte-americano para um canto e explicou-lhe que "Isso não é
impossível" era apenas uma maneira educada de dizer "Nem morto".
O importante é ter
em mente que embora a palavra "não", nem sempre precise ser
pronunciada, a intenção sempre tem de ser transmitida de maneira
clara e vigorosa.
William Ury
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