Um recife de coral é um lugar cheio de vida e cores vibrantes,
onde centenas de diferentes espécies de peixes e plantas vivem
livres da necessidade de criticar uns aos outros. Apesar de uma
imensa variedade de vida que lá existe, cada planta sabe o seu lugar
e cada peixe sabe exatamente onde ele pertence.
De vez em quando um mergulhador humano aparece com uma
máscara e um tanque de oxigênio, e como todo mundo lá embaixo, ele
também não faz críticas. O mergulhador apenas aprecia, é um
visitante no mundo subaquático, observando a riqueza e a beleza da
natureza sem julgamento algum.
As coisas mudam no momento em que o mergulhador sai da água
de volta para a terra seca. A Terra firme acomoda uma variedade
infinita de seres humanos, e os seres humanos no entanto parecem ter
inúmeras opiniões uns sobre os outros, por isso o jogo de criticar
uns aos outros é um dos seus passatempos mais favoritos.
No recife humano nós nos sentamos em pequenas varandas,
observamos os nossos vizinhos e reclamamos: o polvo é um desastre, o
caranguejo é um idiota, a água-viva é covarde, o peixe prateado está
obcecado com glamour, a enguia é muito escorregadia, e todos os
peixes de águas rasas são limitados e sem profundidade. Isto ocorre,
em cada casa, em cada cidade, em todo o mundo.
A crítica é tão amplamente difundida que alguns a consideram-na a
habilidade social mais importante, e estão constantemente
polindo seus conhecimentos. Eles não sabem que quanto mais forte for
o fluxo de críticas, mais a felicidade se distancia ....
A dois mil e quinhentos anos atrás Gautama Buda deu um
pequeno discurso sobre críticas. Ele disse que, embora seja fácil de
se observar e apontar os erros dos outros, é extremamente difícil de
ver os próprios erros. Ele também disse que a maioria das pessoas,
escondem os seus defeitos como um jogador desonesto esconde suas
cartas de azar. Os beduínos do deserto
tem um ditado semelhante: “Um camelo não pode ver sua própria
corcunda!
Então, como podemos ver nossas próprias corcundas? Para
resolver esse enigma temos de perceber que não somos capazes de
criticar as nossas próprias corcundas, porque a corcunda é o lugar
de onde a crítica vem (o eu inferior...).
Quando descobrimos "o que está errado" com as outras pessoas,
nós os criticamos, mas esta crítica é inteiramente uma fabricação
nossa e não tem muito a ver com as pessoas. Nossas imperfeições,
falhas e negatividade são um reflexo ou projeção de nós mesmos nos
outros. Nossa corcunda (o nosso ego humano...) é quem critica as
outras pessoas por terem uma corcunda maior.
Esta voz interior, residente em nossa corcunda transparente,
garante sua sobrevivência graças ao sentimento de satisfação que
recebe por apadrinhar outros. Ela é especializada em encontrar os
seus defeitos e se alimenta da euforia do sentimento de
superioridade.
Se nos falta um senso de autoestima, a crítica se torna a nossa
forma de evitar o autoexame.
Tornar-se consciente disso, é um passo importante na direção
certa. O próximo passo é ter a coragem e a força para remover a
corcunda e conscientemente livrar nossas vidas da crítica obsessiva.
Não só é preciso decidir fazer isso, o que é um enorme passo em si,
como é imperativo que constantemente nos lembremos de não vacilar
sobre esta decisão.
Tente escrever pequenas notas e colá-las sobre todos os espelhos
em sua casa, faça um esforço consciente, porque é muito fácil voltar
a criticar tudo novamente.
Sua corcunda tem um jeito de brincar pregando peças em você,
dizendo-lhe que você tem um bom senso de autocrítica, mas não se
deixe enganar com isso. É um engano muito comum. Todas as formas de
críticas vêm da mesma corcunda...
Quando o foco positivo está ligado para dentro si mesmo, não
tem nada a ver com condenação, reprovação ou julgamento. Quando você
olha para dentro de si mesmo, isto é chamado estado de vigília,
atenção e consciência, e não há críticas.
A percepção de que você não é superior nem inferior a ninguém,
é uma conquista espiritual muito elevada. Quando esse entendimento
não é mais meramente intelectual, mas vai para o nível mais profundo
de seu coração, ele lhe dará a liberdade que você procura, e também
permitirá a liberdade de deixar que todos os outros sejam exatamente
quem eles são e o que eles escolhem ser.
A pessoa que sabe que não é superior aos outros se comporta
sem pretensão e também sabe que não é inferior a ninguém, assim, não
sente medo.
Nissim Amon - Mestre Zen