
A ESPADA
POR BLAVATSKY
No mundo profano, tem-se o
costume de considerar a espada como uma tradição essencialmente
guerreira e, portanto, motivo de temor.
Não se pode contestar que existe
um aspecto guerreiro neste símbolo; porém, seu sentido esotérico
transcende seu caráter de violência e é encontrado em várias Ordens e
crenças religiosas, tais como no Islamismo, Cristianismo, bem como na
maior parte das demais tradições.
A própria tradição Hindu, que
não poderíamos chamar de essencialmente guerreira, possui também
esse símbolo, como cita-nos o Bhagavad-Gita. Segundo a Doutrina
Islâmica, no domínio social, o uso da espada na guerra é válida,
enquanto dirigida contra aqueles que perturbam a ordem e unicamente, com
o objetivo de reconduzi-los a essa ordem.
É claro que por conta dessa
premissa, muito sangue inocente já tingiu a terra; pois a decisão do
que está fora ou dentro da “Ordem”, geralmente é decidida por
extremistas, sejam muçulmanos, católicos, protestantes, etc. No entanto,
este aspecto do uso da espada é o chamado pelos próprios Islamitas como
“O menos essencial”
Existe um outro aspecto em que
ela simboliza a luta que o homem deve conduzir contra os “Inimigos da
Luz” e contrários à ordem e à Unidade de Deus. A “guerra” sempre
estabeleceu o equilíbrio e a harmonia (ou justiça) e assim, proporcionou
a unificação de certo modo, dos elementos em oposição entre si. Isso
quer dizer que o seu fim normal e sem dúvida sua única razão de ser, é a
paz que só pode ser verdadeiramente obtida pela submissão à vontade
divina colocando cada elemento em seu lugar com a finalidade de fazê-los
todos concorrerem para a realização consciente de um mesmo Plano.
Citando novamente a Tradição
Islâmica, existe uma frase de seu Profeta, que era pronunciada toda
a vez que o exército muçulmano voltava de uma expedição contra os
inimigos exteriores: -“RAJÂNA MIN EL JIHÂDIL-AÇGHAR ILA ‘L-JIDÂDILAKBAR”.
Voltamos da Pequena Guerra Santa para a Grande Guerra Santa.
Se a guerra exterior era apenas
a “Pequena Guerra Santa” é porque só tinha uma pequena e secundária
importância, em face da “Grande Guerra Santa” que era a guerra interna
travada dentro de cada um, contra seus próprios “demônios”. A Grande
Guerra Santa, visa purificar o Templo Interior de cada Guerreiro.
É evidente, nessas condições,
que tudo o que serve à guerra exterior, pode ser tomado como símbolo
no que se refere à guerra interior, o que é o caso em particular e em
especial, da espada. Podemos acrescentar que a espada é em geral
associada ao relâmpago ou considerada como derivada dele, o que
representa de modo sensível, a forma bem conhecida da ESPADA DE LUZ OU
FLAMEJANTE - se entendermos que é o símbolo da Luz - ou, FLAMÍGERA - se
entendermos que sua Luz é apenas reflexo da Luz do guerreiro que a
empunha.
Lembramos, porém que, todo
símbolo verdadeiro encerra sempre uma pluralidade de sentidos que
longe de se excluírem ou de se contradizerem, harmonizam-se e
complementam-se mutuamente; portanto, o assunto não está encerrado;
apenas analisado sob alguns aspectos.
A espada representa também, o poder
da palavra; do Verbo Divino ou de uma de suas manifestações.
Quanto ao gume duplo, representa o
duplo poder criador e destruidor desta “palavra”. Esse simbolismo é
válido ainda para todo o conjunto de forças cósmicas, de modo que sua
aplicação à palavra, é apenas um caso particular, mas que, em razão da
concepção tradicional do Verbo e de tudo o que nela implica, pode ser
tomado para representar em seu conjunto, todas as outras aplicações
possíveis.
A espada é associada também ao
raio provocado pelas nuvens, ao raio solar e também - assim como a lança
-, ao eixo do mundo. A dualidade de seu gume por estar associada ao
próprio sentido do eixo, refere-se mais diretamente às duas correntes
inversas da Força Cósmica; ou, mais conhecidas como os Lados Claros e
Escuros da Força.
Este simbolismo axial nos
reconduz à idéia de harmonização concebida como “A Meta” da Guerra
Santa, quer interior, quer exterior, pois o eixo é o lugar em que todas
as oposições se reconciliam e desvanecem, entrando em equilíbrio
perfeito.
Assim, sob este ponto de vista,
a espada não apenas representa um meio mas também o próprio fim a
alcançar. Na Idade Média, a espada era o “Símbolo do Guerreiro”; a
distinção máxima que alcançavam apenas os nobres de título ou profissão.
O Bushidô ou Código do Guerreiro
Japonês ensinava que um Samurai deveria portá-la com sua lâmina,
impecavelmente polida, o que significaria refletir em sua arma, sua
própria alma, limpa e pura; sem nódoas e de forma alguma poderia temer a
morte mais do que a desonra de um ato indigno ou covarde. Sua honra,
formada pelo seu Bushidô, seria sua testemunha. Aliás, esta premissa é,
ditas em outras palavras, a primeira instrução ministrada ao Iniciado.
Os Guerreiros, tanto da Idade
Média como atual, tinham e têm na espada, o seu símbolo máximo de
honra; não porque seja uma arma que ceifa vidas humanas, mas porque é um
símbolo utilizado em defesa de um Código de Honra fundamentado em
ensinamentos de seu Templo ou Círculo Interno.
A posse da espada, não significa
de forma alguma o direito absoluto de uso indisciplinado ou sua
ostentação arrogante. Um Samurai tinha o direito de decapitar um vassalo
apenas para verificar se o seu Katana estava afiado; porém tinha também
a obrigação de dar a própria vida em defesa destes mesmos homens que
viviam sob sua proteção. Era a harmonia dos contrários.
Tanto nestas épocas remotas como
em nossa atualidade, a partir do momento em que nosso Poderoso
Círculo Interno de Força Luz e Poder adquire o direito ao seu símbolo
máximo, representado pela espada, torna-se realidade, um Guerreiro da
Luz, cuja sublime missão é projetar em sua lâmina translúcida de pureza,
todo o seu Esplendor, tornando-se então um Guia, cuja missão principal é
mostrar aos menos afortunados o verdadeiro caminho para o retorno à
Unidade de Deus e toda a Glória de seu Templo.
Cada Guerreiro, desde a Era
Feudal até a de Aquário, deve desejar sua espada esforçando-se por
merecê-la e quando houver atingido este objetivo, fazer jus à honra de
possuí-la; pois, a partir deste momento, ele não será mais um homem
comum.
O Guerreiro e seu símbolo
sintetizam de algum modo, os dois aspectos de “Tudo” em sua significação
“Total”.
- do livro "A Doutrina Secreta" de
Helena P. Blavatsky
Paulo
R. Simões