QUEM É SIVANANDA?
Conhecer a vida deste yogue é a melhor maneira de
entender a ciência do Karma Yoga. É um incrível exemplo de trabalho
abnegado, dedicação e amor ao próximo. Ele mostra-nos o caminho de uma
senda de evolução espiritual de extrema simplicidade. Muitos estudantes
da luz debatem-se no dilema: “Como posso servir a Luz?” “Qual é a minha
missão?” “Que fazer para elevar-me espiritualmente?” Swami Sivananda
responde essas questões com seu exemplo de vida.
Sivananda estava sempre atento às necessidades
daqueles que o rodeavam e não perdia um momento sequer, uma oportunidade
para servi-los com amor.
Karma Yoga, ou o Serviço altruísta, remove as
impurezas da mente; prepara a mente tornando-a receptiva à luz e ao
conhecimento; conduz a Bakti yoga que é devoção e esta conduz a Raja
Yoga e culmina em Jnana Yoga que é autoconhecimento.
Swami Sivananda (pronuncia-se Shivananda) nasceu em
8 de setembro de 1887 e faleceu na década de 60. Ele era descendente de
uma nobre família de yogues, de grande riqueza espiritual e material.
Inteligente, estudioso e trabalhador. Foi um garoto
obediente. Formou-se em medicina e em seguida começou a trabalhar e
fundou um jornal sobre o assunto. Seus artigos eram lido até pelos
leigos que aproveitavam seus conselhos de saúde.
Respeitava todas as religiões. Atendia os yogues, ia
buscá-los na estação de trem, levava-os a sua casa; e dava-lhes
presentes e também os tickets de primeira classe no trem. Renúncia era
uma grande marca em sua personalidade. Sua família era de grandes
valores espirituais, morais e materiais.
Dois anos após sua formatura, sentiu-se inclinado a
ir para a Malásia, onde dedicou-se a servir os pobres. Ou seja,
abandonou uma carreira promissora para dedicar-se totalmente a prática
do Karma Yoga, ajudando gratuitamente os necessitados pobres da Malásia.
Sivananda não abandonava a casa de um doente grave enquanto ele não
demonstrasse alguma melhora.
Ele deixou uma vida de príncipe para servir o
próximo. Após dois anos na Malásia, pegou apenas dois pares de roupa e
uma vasilha para beber água e partiu em viagem por todos os lugares
sagrados da Índia, sem perder nenhuma oportunidade de servir a cada
momento.
Enquanto andava de cidade em cidade soube de
Rishikeshe e desejou partir para lá. Foram seus devotos que lhe pagaram
a passagem de trem pois ele realmente já estava despojado de todos os
seus haveres.
Sivananda foi iniciado por um grande mestre, mas não
o seguiu. Já em Rishikeshe ficava horas no rio Ganges, meditando.
Costumava mergulhar pães nessa água sagrada que depois ele comia sem
acrescentar mais nenhum condimento. Praticou medicina nesta vila que
muito necessitava de assistência. Para ele o trabalho era uma adoração.
Ele tinha Buda como modelo e lembrava-se
continuamente de seus preceitos, ensinamentos e exemplo. Dedicava-se
total e absolutamente ao seu desenvolvimento espiritual. Quando vagava
pelas cidades da Índia, carregava apenas duas peças de roupa muito
simples. Dormia no chão, caminhava percorrendo longas distancias no dia,
passava dias esfomeado, tendo apenas alguns figos para comer. Certo dia
alguém lhe deu 5 rúpias para comprar seu leite e ele aproveitou o
dinheiro para publicar cem panfletos e distribuiu-los.
Sivananda anotava todos os sublimes pensamentos que
tinha em suas meditações. Mais tarde esses pensamentos tornavam-se
frases e textos para artigos ou livros. Sua mestria e fama começaram a
crescer e pessoas de toda parte vinham em busca de sua sabedoria.
Ele viajou por muitas cidades da Índia, transmitindo
os ensinamentos e ao voltar, fundou a “Divine Life Thrust Society”, em
1936.
Essa organização espalhou-se pela Índia e pelo
exterior. Sivananda considerava o trabalho uma adoração. Ele acreditava
que Karma Yoga ou Serviço altruísta é a melhor yoga para a evolução
espiritual. “Karma Yoga é a melhor yoga” e “Prática de Karma Yoga”, são
dois dos seus livros sobre o assunto.
Serviço tem um efeito mágico na mente do buscador.
Serviço dissolve as durezas do coração. Karma Yoga é a mais difícil das
yogas. Ele dizia: “Para mim serviço é mais do que Raja Yoga ou Vedanta”.
Sivananda praticava as ássanas yogas regularmente,
sem faltar um só dia. Ele cuidava de sua saúde pois sabia que precisava
disso para atingir a auto realização. Era um homem alto, forte, bem
proporcionado, de voz forte, doce e gentil com todos. Sivananda teve um
legado familiar de elevada espiritualidade, tanto dos pais como dos
tios. Sem dinheiro, sem suporte apropriado do público, sem auxiliares
suficientes, sem um local apropriado para viver, sem comida adequada,
ele deu a volta e realizou um estupendo trabalho.
Mesmo sem ir para a América do Norte, ele
influenciou o mundo inteiro, permanecendo em um pequeno quarto à beira
do rio Ganges, através da sua poderosa caneta. Ele estabeleceu filiais
da “Divine Life Society” nas Américas, África, Burma, Seilão e outros
lugares.
Sivananda lavava os pés de pessoas doentes e idosas;
fazia questão de lavar suas próprias roupas. Carregava potes de água em
seus ombros, colocava-os no quarto dos doentes e varria o chão
silenciosamente. Ele se deliciava com esses trabalhos e sempre dizia:
“Esta é a mais elevada yoga que pode levar-nos ao mais alto pico da
perfeição e dos princípios da glória divina.”
Sivananda alimentava as formigas com açúcar,
pássaros com arroz., macacos com bananas e peixes com pão. E dizia:
“Ninguém pode esperar atingir unidade sem fazer esses serviços. O mero
estudo dos livros vedânticos, sem a prática é absolutamente inútil.
Ele ensinava a ver Deus em todas as coisas. Dizia:
“Faça uma saudação com reverência à tudo. A saudação ajudará você a
sentir a Presença Divina e quebra seu orgulho e egoísmo. Faça saudação
até mesmo para as formigas, cachorros, pedras, árvores, rio, céu,
cadeira, mesa, pilar, pote de ferro. Vida e energia estão lá. Fale com
eles. Faça isso por alguns meses e observe as mudanças em si mesmo”.
Quando Sivananda tinha uma idéia, um bom pensamento
que vinha à sua mente, ele o registrava imediatamente, fosse onde fosse;
tinha sempre consigo caneta e caderninho de notas. Seus pensamentos,
tornavam-se frases, sentenças, parágrafos, panfletos, livros e livros
com a maior rapidez (artigos para jornal, revistas e orientação para
discípulos à distância).
Suas idéias fluíam como o rio Ganges e sua caneta
corria com grande velocidade; podia escrever em qualquer circunstância.
Doze datilógrafos não conseguiam dar conta de seus escritos.
Ele era procurado por buscadores da luz para dar
entrevistas e por doentes necessitados de consulta ou tratamento.
Ele renunciou aos direitos autorais de suas obras.
Qualquer um podia publicar seus trabalhos e ele ficava feliz se uma
editora publicasse seus livros sem se preocupar com lucros. Era
excelente orador. Ele tinha uma voz estrondosa, era eloqüente e
impressionava a audiência com discursos flamejantes. As palavras fluíam
de sua boca e a platéia, mesmo quando de dez mil pessoas, ficava em
profundo silêncio, nem as crianças perturbavam.
Um governador de Estado disse: “Eu já ouvi grandes
oradores na Europa, América e no mundo. Stalin é o mais impressionante,
suas palavras calam no fundo do coração do ouvinte, mas Sivananda
supera-o. Suas palestras mudam o caráter, conduta, mentalidade e atitude
dos homens”.
Sivananda contava histórias que faziam a platéia rir
continuamente. Ele podia meditar, concentrar ou escrever mesmo no meio
da multidão, no barulho das grandes cidades ou em qualquer lugar.
Ele nunca permitiu que alguém carregasse suas malas,
embora houvesse centenas de admiradores esperando na estação de ferro
que ficariam honrados em prestar-lhe um serviço. Aos estudantes que
insistiam em servir-lhe ele dizia: “Se querem me ajudar imprimam
panfletos e os distribuam, publiquem ou traduzam meus livros em outras
línguas”.
Sivananda era extremamente terno e compreensivo. Ele
nasceu com essas virtudes e desenvolveu-as durante sua vida com muito
esforço. Ele dizia: “Deus é Todo misericordioso. Realização divina é
conhecer Deus e tornar-se Deus. Para atingir realização divina é
necessário primeiro tornar-se todo misericordioso. Quando o estudante
desenvolve essa virtude todas as outras virtudes virão por si mesmo.”
Sua compaixão desenvolveu-se e ele atendia os
mendigos dando-lhes roupas e alimentos sem que estes pedissem. Sivananda
via Deus em todos os lugares e pessoas até mesmo nas prostitutas e nos
ladrões.
Sivananda dizia: “Serviços manuais removem egoísmo e
orgulho.” Quando o templo do Ashram estava sendo construído ele não
perdia uma oportunidade para carregar terra ou pedra em seus ombros;
gostava também de varrer a casa.
Pessoas de todas as línguas e religiões, castas e
credos viviam com ele no Ashram. “Seja gentil e presenteie aqueles que o
machucam, assim estará desenvolvendo amor cósmico e destruindo o ódio”,
dizia ele.
Sivananda não permitia que alguém o apresentasse nas
conferências, ele quebrava todas as formalidades.
Ele não mantinha segredos como outros yogues, que só
ensinavam certas leis para seus melhores discípulos depois de muito
tempo. Sivananda transmitia tudo e não fazia diferença entre seus
discípulos e o povo que vinha em busca de luz.
Ele treinava os estudantes com a mesma rapidez que
são treinados soldados para guerra. Revelava o segredo de seu sucesso
para todos e não tinha um círculo interno de alunos. Ele discutia
problemas do Ashram em frente a visitantes e considerava todos que
estivessem no Ashram como iniciados.
“Desenvolva virtudes que o samadhi e a meditação
profunda virão por si”.
“Se alguém está passando por momentos de angústia e
agonia e você está meditando é melhor para o seu desenvolvimento
interromper a meditação e procurar consolar, orientar, atender e servir
essa pessoa primeiro. Este tipo de serviço por meia hora é igual a três
horas de meditação”, dizia: “Não existe perda em Serviço”.
Ele orava ao deus Ganesha, Saraswati e ao guru
Brahma Vidya antes de começar a escrever. E finalizava dizendo: HARI OM
TAT SAT.
Ele era um homem grato e simples como uma criança e
ao mesmo tempo um mestre rigoroso. Era uma criatura cheia de boa vontade
para atender as mínimas necessidades daqueles que o rodeavam. Era
silencioso algumas vezes e não dispensava seus momentos diários de
solitude e meditação, mesmo que para isso tivesse que caminhar muito até
encontrar um local adequado. Sivananda deitava-se às dez horas e
levantava-se às três ou quatro horas da manhã para meditar.
Se olhava o azul do céu ou as águas azuis do rio
Ganges, lá ele contemplava o Senhor Krishna. Ele visualizava o mundo
todo como sendo o próprio Brahman.
Karma Yoga - Uma mulher caiu inconsciente no chão e
Sivananda carregou-a em seus ombros. Carregava idosos que precisavam ser
colocados em outros lugares, ele, o mestre sempre poderia ter chamado
auxiliares, mas Sivananda não perdia uma oportunidade para servir.
Ele dava remédio para as pessoas e certa ocasião
esqueceu de dar um medicamento que um caminhante necessitava. Não pensou
duas vezes, correu quatro milhas até encontrar o homem e dar-lhe o
remédio certo.
Karma Yoga - Às vezes, ele carregava dois potes de
água do Ganges, um em cada mão para a cozinha. Outras vezes, limpava as
cenouras ou servia os pratos dos hóspedes. Era visto abrindo sombrinha e
segurando sobre a cabeça de um doente ou ancião. Quando via um ancião
com dificuldade de se curvar, corria para amarrar-lhe o laço da bota.
Muitas vezes, ele trabalhava com as máquinas que preparavam a fundação
do templo e dizia: “Qualquer serviço na construção de um templo é muito
sagrado”. Ele nunca pensava na natureza do trabalho e nunca pensava em
prestígio.
Existem livros que falam sobre a filosofia do karma
yoga, mas seu livro “Prática do Karma yoga” mostra várias formas de
praticar o serviço abnegado. Ele dizia: “A prática do Karma yoga é muito
necessária para o desenvolvimento de certas virtudes... sem essas
virtudes o aspirante não pode nem sonhar em atingir realização divina...
certas virtudes como: paz, contentamento e coragem são subjetivas;
enquanto tolerância, equanimidade, delicadeza, misericórdia, etc... são
objetivas. As virtudes objetivas somente podem ser cultivadas pela
prática do Karma yoga”.
Os aspirantes sentam-se para meditação sem possuir
essa virtudes. Eles tentam purificar-se e procuram a solitude. Contudo
eles falham em atingir suas metas porque não desenvolveram estas
virtudes que amacia e purifica seus corações. "O tempo passa e é
lamentável.“.
Sivananda era amigo de todos, ajudava a todos,
gostava de encher as mãozinhas das crianças com doces. Era protetor de
muitos que procuravam conselhos e orientação; diagnosticava, medicava,
atendia com carinho, amor e atenção a todos que o procuravam. Era
médico, enfermeiro, e amigo de todos. Ele era tão simples que todos
abriam seus corações com ele. Alguns estudantes lhe pediam carta de
apresentação, outros pediam tickets da ferrovia para voltar para casa,
outros se aproximavam dele para pedir doação por motivos religiosos ou
educacionais. Ele não dispensava ninguém.
A oratória de Sivananda era tão flamejante que
trazia muitos para a espiritualidade. Aqueles que estavam prontos,
deixavam o mundo e abraçavam a senda esotérica. Ele parecia um ciclone
espiritual.
Ele viajou por muitas cidades dando conferências e
transmitindo o conhecimento. Onde quer que fosse, até mesmo na estação
de trem, enquanto esperava o trem ele ensinava ássanas yoga e pramayama.
Publicava e distribuía gratuitamente seus panfletos. Sua fama foi
crescendo pelo país. Ele incentivou editores a criar revistas religiosas
e assim foi feito, uma revista na língua indi e outra em inglês.
Ele colaborava para essas revistas com materiais e
idéias. Com o tempo começou a aparecer doadores e as publicações dos
livros aumentaram. Com as doações contínuas ele pode fazer o jornal de
“Divine Life” mensalmente.
Em cada colégio e biblioteca de cada cidade, vila e
residência de pessoas religiosas, em cada associação havia uma coleção
de suas publicações. Ele conseguiu tudo com sua própria persistência e
esforço, dava livros e muitas vezes vendia abaixo do preço do custo. Ele
foi o editor de quatro jornais.
Sivananda permaneceu vivendo sempre em sua humilde
cottage às margens do rio Ganges.
A simples presença de Sivananda à beira da cama dos
doentes, dava-lhes grande alívio. Somente sua ternura e suas palavras de
bom humor já afastavam as doenças. Ele encorajava o doente que passava a
ter mais ânimo, reagindo a favor da cura.
Seus estudantes eram estimulados a fazer de tudo:
dar aulas, receber e atender visitantes e hóspedes, fazer caridade,
ajudar os doentes e idosos, datilografar, consertar máquinas de
datilografia, carregar água ou pedra do rio Ganges, fazer serviços
caseiros, praticar yoga, aprender sânscrito, etc, etc, etc...
Sivananda tinha imenso cuidado com o progresso
espiritual dos estudantes que viviam com ele. Ele corrigia todos mas não
forçava ninguém, pois sabia que a evolução espiritual é gradual. E
ensinava: “Trabalhe pela solidariedade no mundo até o teu último
suspiro. Samadhi e realização divina virão por si mesmo, não se preocupe
com isso”.
Nenhuma instituição, nenhum ashram, nenhum homem já
distribuiu tanto panfleto e livro em religião, filosofia e yoga como
Sivananda. Ele inundou todo o país com seus panfletos gratuitos. Isto é
realmente um grande trabalho!
Ele fundou o “The Ananda Kutr Forest University” em
um lugar belíssimo do Himalaia. A meta dos estudos era Auto Realização.
Eles aprendiam a controlar a mente e as emoções, a desenvolver virtudes
e a erradicar maus hábitos. Algumas das qualificações para o estudante
ser admitido eram: pureza, determinação, discriminação, auto
resistência, serenidade, forte desejo de libertação, devoção,
obediência, sinceridade, fé, coragem e vontade de Servir. Os alunos não
pagavam nada, nem um tipo de taxa.
Após serem graduados os estudantes da AKF University
eram enviados a dirigir as filiais da "Divine Life Society" em várias
partes do mundo para elevar as almas dos jovens, disseminar o
conhecimento da yoga e Vedanta.
Eles viviam sob uma rigorosa disciplina na AKF
University. Havia também cursos de um e dois meses. Havia conferências
duas vezes por ano na Páscoa e no Natal.
Sivananda não aceitava assentos especiais para ele
em nenhuma assembléia, reunião ou conferência. Ele era muito rápido para
fazer as coisas. Em um minuto escrevia uma carta e respondia milhares
delas.
Ele foi realmente um homem muito especial, um
perfeito mestre.
Texto traduzido e compilado por Maria Lúcia Vieira
do livro: "Sivananda, the Perfect Master" de Swami Narayanananda
do site:
www.eusouluz.com.br