A ciência ocidental considera a respiração
tão-somente fenômeno fisiológico, mercê do qual o organismo utiliza o
oxigênio do ar a fim de com ele efetuar as transformações químicas
necessárias para que o sangue possa distribuir "nutrição" a todas as
células. Parar de respirar e o mesmo que morrer.
Para a ciência yogi a respiração, no entanto, é muito
mais do que um fato fisiológico. É também psicológico e prânico. Em
virtude de fazer parte dos três planos - fisiológico, psíquico e pranico
-, a respiração é um dos atos mais importantes de nossa vida. É por seu
intermédio que logramos acesso a todos eles. Por outro lado, é ela o
único processo fisiológico duplamente voluntário e involuntário.
Se quisermos, podemos acelerar, retardar, parar e
recomeçar o ritmo respiratório. É-nos possível fazê-la mais profunda ou
superficial. No entanto, quase todo o tempo, dela nos esquecemos
inteiramente, deixando-a por conta da vida vegetativa. Graças a isto, a
respiração é também a porta através da qual poderemos um dia, a custa de
aprendizado, invadir o reino proibido do sistema vago simpático. É
principalmente graças a ela que um yogi avançado consegue manobrar
fenômenos fisiológicos até então refratários a qualquer gerência.
A psicanálise pôs ás claras a existência de um eu
profundo, uma personalidade inconsciente, que estruturada com impulso e
tendências instintivas, procura manifestar-se, pressionando, lá do nível
desconhecido e misterioso de cada um de nós. Uma outra personalidade,
que meridianamente cada um se reconhece ser, é estruturada á base de
comportamentos aprendidos e socializados. Esta dicotomia alimenta um
estado de tensão permanente. Pois o eu consciente, vigilante, teme e
sufoca a livre expressão do eu profundo. Este, na interpretação de
Freud, feio, erótico e anti-social, é alimentado pelas freqüentes
repressões a que o eu consciente o submete.
Do eu profundo o que podemos dizer é que ele é
desconhecido e rebelde ao controle, mas não podemos concordar que seja
apenas sujeira e negrume. Podemos dizer, isto sim, que as energias que
consigo guarda, e que, no homem vulgar, são desconhecidas pelo eu
consciente, têm sido apenas temidas e recalcadas. Submetidas, mas não
vencidas, permanecem, no entanto, criando conflitos e, como uma mola
comprida, são perigosamente capazes de vencer o controle e soltar-se,
muitas vezes, desastrosamente.
Visando à unificação da personalidade, por meio de
auto-análise e da psicanálise, tentativas são feitas no sentido de um
"tratado de paz e mutua colaboração" entre estes dois partidos que
dividem o "reino interno" do homem. A respiração é um meio certo de
obter essa unificação ou yoga.
Há em cada homem duplo ritmo respiratório. Um ligado
à vida de relação ou consciente e o outro à atividade inconsciente e
vegetativa. A primeira, que todos conhecem, é superficial, e a outra,
profunda. Aquela se liga às atividades conscientes, características do
eu superficial e consciente, e esta é própria dos mecanismos
inconscientes e involuntários, ligada portanto ao eu profundo.
A integração que se atinge no plano respiratório é
estendida ao plano psíquico, mercê da integração dos dois sistemas
nervosos: cerebrospinal e simpático. Consegue-se isto com a prática da
respiração integral, que, começando como respiração superficial, se vai
progressivamente aprofundando até a meta final. Desde já, porém, não se
deve entender como respiração profunda apenas o inspirar sob grande
esforço com o fim de encher ao Maximo o pulmão.
A) Aspecto psíquico da respiração
Para melhor evidenciar a natureza psíquica da respiração, basta
considerar as alterações rítmicas funcionais que concomitantemente
ocorrem com as alterações psíquicas. Na inquietude mental e emocional
observa-se a respiração acelerada. Torna-se lenta nos estados em que nos
achamos física, mental e emocionalmente tranqüilos. Se nos envolve um
conflito entre duas tendências ou desejos antagônicos, ela se faz
irregular ou arrítmica. Se, no entanto, nos encontrarmos integrados,
livres de contradições psíquicas, respiramos compassadamente.
Reciprocamente, quando, pelos exercícios
respiratórios, voluntariamente controlamos a respiração, tornando-a
lenta, induzimo-nos necessariamente à tranqüilidade emocional e mental.
Ritmando-a, estabelecemos a paz entre a mente, a vontade e os impulsos
antes contraditórios e opostos.
B) A respiração como fenômeno prânico
Ao tratarmos do corpo prânico chegamos a ver a
respiração como o meio de que ele se serve a fim de suprir-se de energia
prânica. Cremos já ter dito o suficiente. Vimos já a importância da
respiração como fenômeno polarizado, absorvendo a energia positiva ---
HA---e a negativa---Tha. Energias estas que vão vivificar os chakras e
circular pelos vários nadis.
Pelo exposto, torna-se claro que, controlando
voluntariamente a respiração, ritmando -a, aprofundando-a, dirigindo-a,
polarizando-a, o homem vai obtendo acessos a seus diferentes níveis -
psíquico, fisiológico, prânico, podendo então integrá-los em seu
proveito.
C) As fases da respiração
A respiração yogi se faz segundo três fases: puraka,
ou inspiração; kumbhaka, ou retenção; rechaka, ou expiração. Conforme
sabemos, quando inspiramos apenas pela narina esquerda, terminal do nadi
id, absorvemos prâna negativo (THA) e quando o puraka se faz pela narina
direita, onde termina o nadi píngala, incorporamos prâna positivo (HA).
Pranayama e sua importância
Etimologicamente, a palavra sânscrita pranayama
significa domínio sobre o prâna. A maioria dos autores conceitua como a
suspensão voluntária do alento, isto é, do prâna, e é o objetivo comum
que todos eles apontam para os vários exercícios respiratórios,
constituindo o "abre-te sésamo" para a transcendência e libertação.
O venerável, Swami Vivekananda, em "filosofia yoga"
(editorial Kier, Buenos Aires), narra uma parábola, ilustrando a
importância do paranayama. Ei-la: "conta-se que o ministro de um grande
rei caiu em desgraça. Como conseqüência, o rei mandou encerra-lo na
cúspide de mui elevada torre. Assim se fez, e o ministro foi relegado a
ali consumir-se.
Ele contava, porem, com uma fiel esposa, que à noite
foi à torre e, chamando o marido, perguntou-lhe que poderia fazer para
facilitar-lhe a fuga. Respondeu-lhe que na noite seguinte voltasse
trazendo uma corda grossa, um forte barbante, um carretel de fio de
cânhamo e um outro de fio de seda, um besouro e um pouco de mel. Muito
admirada, a boa esposa obedeceu e lhe trouxe os objetos pedidos.
Então o marido lhe disse que atasse a extremidade do
fio de seda ao corpo do besouro, que lhe untasse os chifres com uma gota
de mel e que o colocasse sobre a parede da torre, deixando-o em
liberdade e com a cabeça voltada para o alto. Assim ela fez e o besouro
principiou sua viagem. Sentindo o cheiro do mel diante de si, trepou
lentamente, com a esperança de alcança-lo, ate que chegou ao cume da
torre. Apoderando-se então do besouro, encontrou-se o ministro na posse
de um dos extremos do fio de seda.
Nesta situação, disse à esposa que unisse no outro
extremo fio de cânhamo e, depois que este foi puxado, repetiu o processo
com o barbante e finalmente com a corda. O restante foi fácil: o
ministro conseguiu sair da torre por meio da corda, evadindo-se. Em
nossos corpos, continua o amado yogi Vivekananda, o alento vital é o fio
de seda e, aprendendo a dominá-lo, apoderamo-nos do fio de cânhamo das
correntes nervosas, destas fazemos outro tanto com o forte barbante de
nossos pensamentos e finalmente apoderamo-nos da corda do prâna, com a
qual logramos a libertação".
A BOA RESPIRAÇÃO DEVE SER NASAL
Dos mamíferos, o homem é o único que, por causas
patológicas ou deploráveis maus hábitos, ás vezes respira pela boca.
Respiração errada. O nariz não foi feito para compor um elegante perfil.
Deus o pôs no meio da nossa face para com ele realizarmos sadiamente
esta coisa importantíssima que é respirar.
Os inconvenientes da respiração bucal são de dupla
natureza: físicos e prânicos.
Os de ordem física começam com a insuficiente alimentação de ar nos
pulmões. Os que respiram pela boca são permanentemente martirizados por
uma asfixia parcial, além de serem mais sujeitos às infecções por germes
do ar. O nariz é um filtro contra poeiras. Graças à ação bactericida de
seu muco, livra-nos de insidioso invasores. É também um radiador natural
que aquece o ar frio do inverno, antes de chegar aos pulmões.
A dificuldade de respirar pelo nariz começa quase
sempre na infância, e é quando, por tal motivo, se forma o habito de
respirar pela boca.
A ciência dos tatwas ensina que na pessoa sadia a
respiração se faz mais fortemente por uma narina do que por outra,
variando o lado de duas em duas horas. Durante duas horas, a narina
direita funciona mais fracamente do que a esquerda para, depois de duas
horas, mudar e então é a esquerda que mais trabalha.
Não sei se a ciência ocidental já se apercebeu deste
fenômeno. Isto implica em saúde e harmonia com o cosmos. As pessoas que
sofrem de nariz entupido de um dos lados gozam menos saúde do que os que
respiram normalmente. Por isso deveriam aprender a conservar em bom
estado funcionando ambas as narinas.
Das fossas nasais, a que mais freqüentemente funciona
mal é a esquerda, por onde se faz a inspiração da corrente negativa THA.
"Ora, diz Kerneiz (Comment Respirer; Èditions Jules tallandier, Paris),
certos biologistas contemporâneos, como o doutor thijenski, consideram
precisamente como uma das causas e igualmente um dos principais sintomas
do envelhecimento a insuficiência de ionização negativa nos fenômenos
humanos."
Agora que expusemos o ônus de uma respiração defeituosa, estamos na
obrigação de indicar técnicas yogues que a possam corrigir e curar.
A) Como corrigir a respiração deficiente
Como os exercícios de pranayama são quase todos
executados usando somente o nariz, antes de iniciar um deles é preciso
ter as fossas nasais totalmente desimpedidas.
Talvez nenhuma técnica yogi seja necessária quando se
trata de uma pessoa que respira pela boca devido ao mau hábito formado
em época em que, por um qualquer defeito anatômico ou fisiológico, teve
dificuldade em respirar pelo nariz. Neste caso, só é preciso uma boa
dose de propósito de livrar-se do habito, se é que o obstáculo anatômico
ou fisiológico já foi removido.
Para desobstruir uma das narinas, coloque na axila do
lado oposto um volume como o de um livro, ou o punho fechado. Dentro de
minutos, o desentupimento se dá. É só ter um pouco de paciência. Logo
que obtiver o que deseja, desfaça a pressão, senão vai entupir a narina
do mesmo lado. Se estiver na cama, é suficiente deitar-se sobre o lado
desobstruído, para em poucos instantes livrar a narina que estava
entupida. E ainda há quem não admita a existência dos nadis!!...
A lavagem do nariz ou vyut-krama consiste em aspirar
água pelo nariz e cuspi-la pela boca. A sucção se faz mais com a faringe
do que com as narinas. A água deve ser fervida, com uma solução de 7% de
sal de cozinha (melhor o sal bruto) e em temperatura tépida. Às
primeiras vezes a coisa é desagradável. Dá uma dorzinha que desaparece
com poucos segundos.
Alguns exercícios de pranayama, adiante ensinados,
são outras formas eficazes de limpar o muco das narinas e quem os
pratica realiza outrossim um tratamento preventivo.
Há certas práticas indicadas por kerneiz (op. Cit.)
que preferimos explicar na palavra do autor. Tais técnicas "consistem
essencialmente em pronunciar ou sobretudo em cantar certas silabas de
maneira a fazer vibrar as paredes das vias respiratórias. Os sons devem
de preferência ser emitidos sobre uma das notas do acorde perfeito e
segundo o registro vocal de cada um. Não é preciso cantar a toda a voz,
mas cantarolar".
"A silaba mais própria a fazer vibrar a cavidade
torácica mediana é FREM; é preciso tentar um pouco para obter o justo
som; apoiando ligeiramente os dedos sobre o peito, deve-se sentir a
vibração. OM (a silaba sagrada) faz voltar a parte superior da caixa
torácica e a base da garganta. YUM a parte superior da garganta e alto
da glote. VAM o alto do véu palatino e a parte posterior das cavidades
nasais. MAM a parte média do véu palatino e das cavidades nasais. SAM a
parte anterior do véu palatino e das cavidades nasais. Podem-se obter
vibrações um pouco diferentes e mais acentuadas substituindo o M final
por N."
"A emissão prolongada e repetida dessas silabas sobre um som musical e
as vibrações que elas determinam tem por efeito purificar as vias
respiratórias e livrá-las de todo excesso de muco; exercendo ação
tonificante notável, que tende a imunizá-las contra todas as infecções
menores de que se tornam sede."
Esses exercícios assim descritos por kerneiz são
classificados na categoria de mantrans. Mantram é a palavra ou som que
determina efeitos vibratórios, psíquicos e espirituais quando
devidamente emitidos. São verdadeiros mantrans os cantos gregorianos e a
entoação das suras do Alcorão pelos muçulmanos em prece. De certa forma,
o efeito psicológico arrancado aos soldados pela marcialidade dos
tambores exemplifica o que os orientais denominam mantrans.
O DIAFRAGMA E A RESPIRAÇÃO DIAFRAGMATICA
No mecanismo respiratório, o músculo que separa o
tórax do abdômen desempenha papel relevantissimo. Se você se deitar de
barriga para cima poderá observar como o abdômen sobe e desce ao ritmo
respiratório. Funciona o diafragma como uma membrana. Quando desce,
intumescendo o abdômen, arrasta consigo a base do pulmão, aumentando o
volume interno deste, o que produz a sucção do ar. Isto é a inspiração.
Na expiração, dá-se exatamente o contrário; o
diafragma, levantando-se, comprime os pulmões, expulsando o ar. Este
mecanismo, tão bonito e tão sadio, com a vida sedentária,
desgraçadamente, vai-se perturbando, até quase desaparecer na maioria
das pessoas maduras. É como se o diafragma morresse aos pouquinhos.
Resta no fim tão-somente a respiração com a parte superior dos pulmões.
Mesmo entre atletas tal fato se dá. Quando querem respirar fundo para
voltar à calma, levantam os braços, comprimem e intumescem de ar somente
o terço superior do órgão.
Fazem exatamente o oposto do que o Yoga ensina e que
é a forma ideal de respirar. O atleta ocidental inspira estofando o
peito e encolhendo a barriga. O yogi inspira projetando discretamente a
barriga, puxando para baixo o diafragma, enchendo, assim, não somente o
ápice mas também e, mesmo antes, a base do pulmão, que é a zona mais
rica em alvéolos, portanto a mais importante para a economia vital.
A morte do diafragma paralisa a movimentação da
parede abdominal. Esta, por falta de exercícios, definha, não podendo
mais sustentar em seus devidos lugares as víceras, que se dilatam e caem
sob a solicitação da gravidade. E a velhice muito cedo chega, com a
gordura que se acumula enfeando a barriga. A viceroptose, este
deslocamento das víceras, é corrigida mediante a respiração
diafragmática que você vai aprender daqui a pouco.
A respiração ocidental nega ao organismo um tesouro
de benefícios decorrentes da massagem automática e natural que a
respiração diafragmática promove nos órgãos internos e nas glândulas, a
par de que, do ponto de vista quantitativo, trabalhando apenas com um
terço do pulmão, reduz proporcionalmente a "capacidade vital".
A respiração diafragmática tem sido utilizada no tratamento de
moléstias cardíacas. Ela massageia com brandura e naturalidade o
coração. O professor Tirala, de Wiesbaden, é o pioneiro neste
tratamento. No restabelecimento do presidente Eisenhower a respiração
teve papel significativo.
Massagem igual á que recebe o coração todas as
vísceras recebem. No caso dos intestinos, ela é particularmente
benéfica, curando a prisão de ventre, contribuindo assim para livrar o
organismo das massas putrefactas.
Rejuvenescimento progressivo é outro dividendo que
seguramente se recolhe. A respiração abdominal também é utilizada como
elemento principal em regimes de emagrecimento. Atuando diretamente nas
causas da obesidade, é o mais definitivo e sadio método de
emagrecimento.
Depois de tudo isto saber, o leitor pode estar
ansioso pelo "mapa da mina", isto é, a técnica da respiração
diafragmática. Vamos a ela.
Antes de qualquer outra coisa, faz-se imprescindível restaurar os
movimentos naturais do diafragma, perdidos em massas de gordura,
sufocados por cinturões apertados, esmagado por vísceras crescidas. Sem
este exercício preliminar, nada pode ser obtido e nada deve ser tentado.
A) Ativação do diafragma
Trata-se de exercício puramente mecânico. Nele ainda
não nos preocupamos propriamente com a respiração. Sentado ou em pé,
tendo previamente esvaziado os pulmões, movimente a barriga para diante
e para trás sob a ação do diafragma. Desde este primeiro exercício você
deve habituar-se a manter sua atenção no que esta fazendo. Comece com um
minuto no primeiro dia e vá acrescentando um nos dias subseqüentes até
atingir cinco. Não use de violência, pois poderá vir a sentir alguma
dor, a qual devera passar com o repouso. Evite a prática se o estomago
estiver cheio. Para maior facilidade, de pé, incline o tronco um pouco
para frente, apoiando as mãos nas coxas um pouco acima dos joelhos.
B) Limpeza do pulmão
O pulmão é como uma esponja que se deve embeber, não
de água, como a esponja comum, mas de ar. A cada inspiração se enche de
ar que depois será lançado fora quando os músculos respiratórios se
relaxem na expiração. Comumente, tanto a inspiração como a expiração não
são feitas com todo o pulmão, mas apenas com um terço, assim a esponja
só funciona numa sua terça parte. Que acontece com o restante? Uma coisa
bem nociva: boa quantidade de ar fica estagnada, sem renovação, sujeita
portanto a deteriorar-se e deteriorar o próprio pulmão e, portanto, toda
a saúde.
Precisamos, portanto, aprender esta prática higiênica
tão pouco conhecida e tão útil, qual seja a de expulsar do pulmão o ar
residual e fermentado. Aprendemos a espremer ao Maximo a esponja.
Suponhamos que você já aprendeu a movimentar o
diafragma. Expulse todo o ar, ajude com uma pequena tosse e complete
puxando aquele músculo para cima e comprimindo a musculatura abdominal,
o que será conseguido com o encolher ao maximo o abdômen como que
desejando encostar o umbigo às costas. É prudente lembrar que isso não
deve ser feito de estomago cheio.
C) Exercício de respiração diafragmática
Tendo readquirido a natural movimentação
diafragmática, mercê de um exercício anterior, puramente mecânico, temos
agora que a isto associar o movimento da respiração, coisa que, à
primeira vista, parece fácil, mas que não é, devido a uns tantos
desnaturados automatismos respiratórios adquiridos, bem como pela
interferência perturbadora de certos estados psicológicos.
Deite-se sobre as costas, em superfície dura (no
assoalho forrado), encolha as pernas, conservando os joelhos altos e
juntos, mas os pés afastados. Descanse a mão sobre o abdômen, afrouxando
todos os músculos. Proceda à limpeza do pulmão. Assim, o abdômen deve
estar retraído ao Maximo e assim o conserve até que se sinta
"impulsionado" a inspirar, quando então o abdômen tende a expandir-se.
Agora então solte-o e deixe o ar entrar. Concomitantemente, o abdômen se
eleva, arrastando o diafragma, que por sua vez puxa a base do pulmão, e
dessa forma o ar que entrou pelas narinas vem encher este órgão. Para a
exalação, novamente o abdômen se abaixa, suspendendo o diafragma,
enquanto para fora vai o ar.
"Durante o processo, o abdômen é o único que se
movimenta, já que o peito permanece praticamente imóvel. Mas este
movimento do abdômen, repetimos, quando se consegue fazer corretamente o
exercício, não é a própria pessoa (eu consciente) quem dirige e aciona.
É obra exclusiva do diafragma (mente instintiva), o qual o praticante
deve limitar-se a seguir com atenção em sua natural, livre e espontânea
movimentação. Em realidade, não é a pessoa quem faz o exercício
respiratório, mas é a própria vida que nele respira, limitando-se a
pessoa a permitir, observar e seguir com atenção o processo natural de
respirar que em seu interior tem lugar." (A. Blay, "Hatha Yoga";
Editorial Ibérica, s.a.; Barcelona.)
Esse exercício pode ser realizado sem restrições.
Qualquer pessoa sadia ou enferma, jovem ou idosa, pode praticá-lo e na
dosagem que desejar. Para os melhores resultados, deve o praticante
observar que:
a) Às narinas não cabe puxar o ar. Se há alguma
solicitação do ar, esta cabe àquela área posterior ao nariz e anterior à
faringe, lugar aproximado da glândula pituitária. O nariz é a entrada
natural do ar, pois esta aparelhado para filtrá-lo, purificá-lo e
aquecê-lo. A respiração pela boca, só em raros exercícios. Mas no
exercício presente o nariz serve de passagem tão-somente. À sua
passagem, o ar fresco estimula e esfria a mucosa e ao ser expelido vem
aquecê-la.
b) A respiração é calmíssima. Uma pessoa
profundamente adormecida dá-nos uma idéia daquilo que devemos realizar.
c) Depois de certo progresso na técnica, as pernas
podem ficar estendidas, e não mais flexionadas, aproximando-se daquilo
que se denomina relaxamento completo, objeto de estudos adiante feitos.
d) Sua atenção alerta e ininterrupta deve acompanhar
a suave e profunda ondulação do ventre, o entrar-e-sair do alento.
Dizemos alento e não ar atmosférico, pois, a partir daqui, cada vez que
inspirarmos (puraka) devemos mentalizar o prâna, que é vida, paz, saúde,
energia, alegria, enfim, tudo de que precisamos para sermos felizes.
e) Bem dissemos que a atenção deve acompanhar, pois o
praticante somente experimentará as sensações de descanso, liberdade,
espontaneidade, leveza, alegria e paz se se abandonar à vida que nele
penetra, sem interferir voluntariamente no processo. Deve deixar que a
respiração, vinda do plano profundo do eu, chegue à superfície e se
harmonize no plano consciente.
f) Esta pratica lhe será proveitosa:
1) no relaxamento; 2) ao deitar-se para dormir; 3) nos momentos de
tensões e conflitos emocionais; 4) quando se sentir mentalmente cansado;
5) na fase preparatória de qualquer trabalho intelectual.
g) As pessoas que se acham presas à cama podem e
devem praticar a respiração abdominal. Isto só lhes prestará benefícios.
h) O bom êxito depende da correta posição do corpo,
do relaxamento e da atitude mental.
Efeitos psicológicos: Tranquilização de crises
emocionais; correção da habitual divagação mental; sensação de vivência
deliciosa e profunda. Cura insônias.
Efeitos fisiológicos: repouso geral, especialmente
para os sistemas nervosos cerebrospinal e vago-simpatico; perfeita
irrigação sanguinea; regularização de todas as funções vegetativas, com
a mais profunda pranificação do corpo sutil.
RESPIRAÇÃO COMPLETA
Estamos agora em condições de aprender e praticar a
respiração completa, desde que já aprendemos a respiração abdominal
automática. Naquela deixamos que a coisa acontecesse. Agora vamos
dirigir o processo. Se até então apenas trabalhava um terço do pulmão,
agora vamos forçar a ação de todo ele. Nesta forma de respirar, todos os
níveis da personalidade participam, desde os planos mais profundos aos
superficiais.
Agora, voluntariamente atuando com os músculos
respiratórios, o praticante vai fazer o pulmão trabalhar em sua total
capacidade, o que se não deve entender como uma respiração forçada a
ponto de quase arrebentar com a exagerada pressão interna causada pela
superventilação, o que só tem acarretado distúrbios nervosos e
pulmonares. Suavidade é uma das características marcantes de todo
exercício yogi e este não é uma exceção. Posto que se conduza
mentalmente a inspiração, não quer dizer que ela seja um bombeamento
desmedido de ar. Ela é mais o resultado de um impulso que vem do fundo
de nós mesmos.
Normalmente, isto é, respirando somente com um terço
do pulmão, o homem não tem a saúde e a energia que teria se respirasse
com o órgão todo. É isto que vamos ensinar aqui.
Aprendemos a respiração completa. Ela envolve a base,
a parte média e o ápice pulmonares, segundo três fases, precedidas pela
limpeza completa, isto é, com o "espremer-se" totalmente a esponja
pulmonar. Terminada a limpeza, o abdômen deve estar recuado e a massa
pulmonar, sem qualquer ar. É como um vazio que tende a ser preenchido.
Execução. - Pode ser descrita em três fases. Na
primeira, é abdominal ou diafragmática, portanto, quando perfeita, deve
ser automática, espontânea e nela a mente e a vontade apenas figuram
como testemunhas. As duas outras, ao contrário, são fases voluntárias,
quer dizer, mentalmente comandadas.
Deve-se praticar de pé ou sentado, com a coluna
vertebral perfeitamente colocada em suas curvaturas naturais, o que se
consegue mantendo o tronco erecto, sem constrangimento. Assim, com todo
o corpo relaxado, limpe totalmente os pulmões. Permaneça sem o ar por
alguns segundos, como que criando a necessidade de inspirar. Depois
comece.
É bom que evite violências e dosagem além da que
seria prescrita. Nada faça sem estar bem atento para todos os
movimentos. Não desanime com as naturais dificuldades de começo. Siga
fielmente a descrição do exercício... e.... bom proveito!...
1a fase - Respiração abdominal. - Aproveite o impulso
que vem de dentro, liberte o abdômen que vai para frente, deixe entrar
livremente o ar, o qual acentua o movimento abdominal. Com isto ficará
cheia toda a base pulmonar. Os erros que se devem evitar são: 1) não
simultaneidade entre o inspirar e o projetar o abdômen; 2) forçar
demasiadamente a barriga para a frente, julgando que assim faz caber
maior dose de ar. O avanço do abdômen se faz ao mesmo tempo que a
inspiração e desta é a causa.
2a fase - Respiração mediana. - Tendo o ar preenchido
a base do pulmão, devera encher-se agora a parte media, e isso será
facilitado com o alargamento das costelas de parte mediana do tórax, num
aumento lateral do volume torácico. É possível que o principiante sinta
dificuldades, em virtude do estado de atrofia em que tem seus músculos
respiratórios, depois de tantos anos de respiração mesquinha.
Exercite-se colocando as mãos nas costelas e procure sentir que elas se
alargam.
3a fase - Respiração subclavicular. - Depois de bem
alimentadas de ar a base e a parte media, resta fazer o mesmo com o
ápice do pulmão o que se consegue erguendo suavemente os ombros.
Concomitantemente, o abdômen, que permanecia avançado, volta à sua
posição normal.
A expiração faz-se de maneira inversa, como que
esprememos a esponja pulmonar, a partir de cima até embaixo. Para isto,
solte inicialmente a pressão reinante no ápice, depois na parte media e,
finalmente, pela contração e sucção abdominal, expila todo o ar,
igualzinho como faz na "limpeza dos pulmões".
Tanto a inspiração como a expiração se processam cada
uma como um movimento único e uniforme apesar de ser triplo, como vimos.
Quando perfeita, a inspiração é uma lenta, uniforme, ininterrupta e
harmoniosa ondulação que, a partir do ventre, movimenta todo o tronco. O
mesmo se pode dizer da expiração.
Efeitos fisiológicos. - Massageando o coração,
rejuvenesce-o e o estimula; evita a prisão de ventre; equilibra o
sistema endócrino; vitaliza o nervoso; desenvolve e tonifica todo o
aparelho respiratório; melhora o funcionamento do estomago, vesícula,
pancareas, baço, rins e fígado. Melhora a qualidade do sangue pela maior
eliminação do gás carbônico e absorção de oxigênio, beneficiando
portanto o estado de todos os órgãos e tecidos, desenvolvendo
sensivelmente a resistência e a defesa orgânica, aumentando notavelmente
a energia. Somente os resultados colhidos e observados em si próprio
indicarão ao praticante os lucros que auferiu. Destes, um interessa
particularmente às pessoas gordas: emagrecimento sem fome, sem drogas
nem torturas. Na opinião de yesudian, é uma garantia contra a
tuberculose.
Efeitos psicológicos. - Aumenta em muito a energia
psíquica. Desenvolve autoconfiança, autodomínio e entusiasmo para viver.
Proporciona qualidades psicológicas invulgares não só como decorrência
das melhores fisiológicas, como também porque proporciona uma bem maior
assimilação de prâna com mais completo aproveitamento de suas
riquíssimas possibilidades. Pela tranquilização da mente, pela
purificação dos nadis e pela ativação dos chakras, é caminho para as
mais sublimes conquistas espirituais.
Atitude mental. - Ao tomar a posição para o
exercício, esteja convencido de que vai harmonizar-se com a Fonte de
Vida, com o Alento Cósmico, que tudo mantém. É um tesouro e é seu. Não
pense como o homem comum que respirar é somente oxigenar o sangue. É
muito mais que isso. É pranificar-se.
Nas primeiras tentativas, concentre-se sobre os
movimentos musculares acima descritos, mas, logo que estes se fizerem
correta e espontaneamente, concentre-se no prâna e naquilo de bom que a
respiração lhe oferece. Durante a inspiração, visualize tão nitidamente
quanto puder que é invadido por multidões de minúsculas bolinhas
diamantinas e luminosas que lhe trarão benefícios mentais, psíquicos e
fisiológicos; sinta-se como bebendo na fonte da vida.
Terminada a inspiração, conceba na imaginação que
todo aquele prãna se espalha pelo corpo, fixando-se em toda a parte,
vivificando tudo. Ao expirar, convença-se de que lança fora toda a
impureza, toda a fraqueza, toda a causa de sofrimento e inferioridade,
aliviando-se assim do que exista de deletério em sua unidade
psicossomática.
Observações:
a) Nas primeiras semanas, comece com três
respirações em cada sessão, não indo além de duas sessões diárias: uma
ao amanhecer, outra ao anoitecer. Nas semanas subseqüentes, em cada
sessão acrescente uma respiração, até completar sete.
b) Em caso de ter tido uma afecção pulmonar ou cardíaca, convem
consultar o medico. Esta respiração exige maior parcela de esforço
muscular e envolve o pulmão inteiro.
c) A inspiração ou puraka deve:
1° ser uniforme, isto é, manter a mesma velocidade na corrente de ar
inalado;
2° ser silenciosa e suave;
3° fazer-se mediante discreta expansão do abdômen (é um engano
pensar que a quantidade de ar é maior se o dilatar até não poder mais);
4° ser completa, isto é, sem falta ou excesso de um dedal de ar, e
terminar tranqüilamente, sem arrancos.
d) expiração também deve se fazer segundo certas condições:
1° deve ser uniforme (mesma velocidade) e sem sacudidelas;
2° sempre silenciosa, salvo em alguns exercícios especiais;
3° depender tão somente do relaxamento do diafragma e dos músculos
respiratórios;
4° chegar a seu tempo natural, isto é, sem que reste qualquer
quantidade de ar no interior, sem que, para isto, se recorra a esforços
extras nem à solicitação de outra musculatura que não a já citada.
e) Neste tipo de respiração todo abuso é perigoso. Qualquer exagero
deve ser evitado. Os melhores resultados são alcançados pelos que seguem
o caminho da moderação, da suavidade e da correta atitude mental. Seja
perseverante e comedido. Se notar excitação nervosa, é sinal de que esta
errando em algo. Deve então parar e, enquanto relaxa, entregar-se à
respiração abdominal.
f) Esse exercício deve ser praticado durante meses, a fim de que
venha a firmar-se um mecanismo perfeito. Somente depois desse estágio
preparatório poderá o praticante iniciar a respiração ritmada.
VÁRIOS EXERCÍCIOS
a) Kumbhaka (pranayama ritmado)
Na opinião de teso Bernard, kumbhaka é o pranayama
por excelência, o que quer dizer a suspensão do ato de respirar, somente
praticável por aqueles raros que tem o corpo perfeitamente purificado. É
ela que nos dá o domínio sobre o prâna, isto é, nos põe à disposição dos
inimagináveis poderes universais. Isentos de pretensões tão altas, vamos
entender kumbhaka simplesmente como uma outra prática, que, não sendo
tão poderosa, pode no entanto oferecer-nos invejáveis compensações.
Respiração ritmada é o exercício que se segue
naturalmente ao de puraka (inspiração) ou rechaka (expiração) completas.
Chegou a vez de introdurzimos: a) o kumbhaka, ou suspensão do alento
(apnéia voluntária) e b) o ritmo. Em outras palavras, o presente
exercício consiste em ritmicamente inspirar, prender o ar nos pulmões e
expirar, recomeçando novo ciclo.
Sentado ou em pé, olhos fechados, depois da limpeza
dos pulmões, inicie o puraka (inspiração), contando mentalmente (um,
dois, três e quatro). Depois de ter os pulmões embebidos de ar, conte,
no mesmo ritmo, até 16, quando então deverá começar o rechaka
(expiração), que se completará quando você tiver contando até 8. Depois
de esvaziados os pulmões, reinicie a inspiração. Resumindo: inspire,
contando até 4; prenda o ar, contando até 16, e expire contando até 8.
Há também kumbhaka com os pulmões vazios.
Você precisa escolher uma certa unidade de tempo para
que possa ter alguma significação esta contagem 4 - 16 - 8. Melhor do
que tudo será o ritmo de seu próprio pulso. Segurando-o com a outra mão,
sentirá que ele bate e, a cada batida, conte; um, dois, três...
Observações
1. Não é forçoso que seja 4-16-8. Poderá ser
3-12-6, qualquer outro ritmo, contanto que obedeça à proporção de 1 para
puraka, 4 para kumbhaka e 2 para rechaka. Escolha o melhor para você,
contanto que venha a evitar violência, sufocações, sacudidelas e
fadigas. Comece com um puraka mais curto, para ir graditivamente
aumentando. Evite, no principio, kumbhaka com pulmões vazios.
2. Se não é perfeito o estado do coração, não convém reter a
respiração por mais de trinta e dois segundos. É a opinião do autorizado
Yesudian.
Efeito terapêutico: Equilíbrio das correntes HA e
THA, com a conseqüente tranquilização do sistema nervoso e do ritmo
cardíaco.
Efeito psíquico: Calma e desenvolvimento da força de
vontade. Harmonização consigo mesmo e com o universo.
B) Respiração polarizada (Sukha Purvak).
Tudo que foi dito sobre posição e ritmo é valido para
o exercício de respiração polarizada. Acrescenta-se agora uma
alternância, isto é, a ultilização de uma narina, enquanto a outra fica
bloqueada.
Inicia-se, como sempre, com a limpeza dos pulmões,
após o que inspira-se com a narina esquerda, onde termina o nadi da.
Depois do kumbhaka, faça a expiração (rechaka) pela narina direita, após
o que inspire pela narina direita, fechando-a depois e, a seguir,
esvazie pela narina esquerda. Recomeça-se a seguir com a narina
esquerda.
Esta respiração, ao mesmo tempo alternada e ritmada,
é a mais própria para estabelecer o equilíbrio interno e com o meio.
Nela, duas correntes energéticas polarizadas são conduzidas ao mais
desejável grau de integração.
Para fechar uma narina, deixando aberta a outra,
dobre o dedo indicador e o médio de sua mão direita. Leve a mão à altura
do nariz e, quando quiser fechar a direita, faça-o com o polegar e,
quando quiser vedar a esquerda, use o anular que se acha unido com o
mindinho.
Segundo Yesudian, este exercício é muito poderoso e dele não se deve
abusar. É bastante proveitoso para o desenvolvimento das faculdades
mentais e, segundo o autor citado, na Raja Yoga tem significativo papel,
pois facilita o êxtase. Para maior eficiência, conserve os olhos
fechados.
C) Kapalabhati
Exercícios destinados à purificação do corpo. Vejamos
sua técnica.
A melhor posição do corpo é a pose de lótus, mas em
qualquer das posturas sentadas ensinadas neste livro, e mesmo em pé,
pode-se praticar, sendo indispensável que a coluna fique verticalizada e
elegante. Como sempre, comece com a limpeza completa dos pulmões. Agora
relaxe o abdômen, permitindo que se encha de ar a base do órgão. Sem
perda de tempo, por uma ação conjunta da musculatura abdominal e do
diafragma, force bruscamente o ar a sair. A glote deve permanecer
completamente aberta a fim de evitar-se atrito desagradável com a
passagem violenta do ar.
Novamente com o afrouxamento do abdômen, volta o ar a
entrar para outra vez ser explosivamente expulso. Como se vê, o
exercício consiste, em ultima analise, numa série de rechakas
energéticas. Sem qualquer kumbhaka (retenção). Nele a puraka
(inspiração) participa passiva e complementarmente. Visando à maior
concentração mental, mantenha os olhos fechados.
Quanto à dosagem, Blay aconselha dividi-lo em
"voltas" de 11 expirações, após as quais deve-se relaxar todo o aparelho
respiratório. Depois deste repouso, dá-se outra "volta" com igual
número. Uma sessão de principiante deverá constar de três "voltas",
entremeadas por períodos de relaxamento.
Observações necessárias:
1. Este exercício é desaconselhável para quem sofre
do aparelho respiratório, do circulatório e do sistema nervoso.
2. A série de rechakas deve ser rápida, mas a principio o praticante
deve preocupar-se com a aquisição da técnica, evitando violências contra
a própria natureza.
3. A atenção deve ser focalizada no interior do nariz, por onde
circulam as correntes de ar. A concentração mental é melhor se os olhos
ficarem fechados.
Efeitos fisiológicos - Limpa as mucosidades do
aparelho respiratório; tonifica-o; carrega sensivelmente o plexo solar
com energia vital. Tonifica a circulação, aquecendo o corpo e melhorando
o metabolismo. Revigora as cordas vocais.
Efeitos psicológicos - Aumenta a capacidade de
autodomínio e de concentração.
Nota: Como variação, pode-se fazer kapalabhati
alternadamente com uma e outra narina.
D) Ujjâyi
A melhor posição para este exercício é a do lótus.
Vale o que foi dito no exemplo precedente. Ao fazer o puraka ou
inspiração, durante a contagem mental até 6, tenha a glote parcialmente
fechada, o que provocara um som doce, uniforme e de tom baixo. É melhor
tentar seguir a técnica ensinada por Edward Lange ("Yoga pour Soi",
paris): " Durante a inspiração, o pensamento e o movimento dos músculos
necessários a pronunciar HANG abrem a faringe sobre o HAN, enquanto que
a gutural g fecha o orifício, do esôfago e bloqueia a base de vossa
língua sobre as das amídalas". Evite qualquer fricção desagradável do ar
sobre a mucosa nasal.
Permaneça em kumbhaka igual tempo, fechando
totalmente a glote, com a ajuda de jalandhara-bandha ou chave de queixo.
Depois disto comece rechaka.
Desfaça o jalandhara-bandha, relaxando os músculos
respiratórios e soltando a respiração, tendo a glote parcialmente
fechada, mas formado na boca, mercê da posição dos dentes e da língua,
um longo silvo sssss... uniforme e de tom baixo. Use toda a musculatura
do abdômen a fim de expulsar o ar todo. Dura a expiração o dobro da
inspiração. Novamente recorramos à descrição do supracitado Lange:
"Durante a expiração... a parte superior da faringe - o cavum - se
relaxa. Os orifícios dos sinus, esses bolsos permanentes de infecção, se
abrem e são sifonados pelo ar expirado".
Faça a principio seis e vá acrescendo uma por dia,
até dez execuções.
Valem para este exercício todas as recomendações já
feitas para os anteriores: nada de violências e exageros, nada de
imprudências, principalmente por quem sofre de alguma enfermidade.
Consulte seu médico em caso de dúvida.
Dirija a mente para a região da glândula tireóide.
Olhos fechados facilitam a concentração.
Benefícios terapêuticos. - Diminuição da catarreira
incômoda, mercê da massagem nas mucosas, cujas secreções asseguram
defesa contra a infecção. Estimulação das glândulas endócrinas provocada
pela indução de uma forte corrente HA, sendo seu efeito mais energético
sobre as tireóides. Aumenta o calor do corpo e corrige hipotensão
sanguínea. Acredita-se que defenda contra a tuberculose, que evite
distúrbios digestivos, estados depressivos e resfriamentos. Devido a sua
grande ação sobre a tireóide e tensão sanguínea, deve ser evitado pelos
que sofram de hipertireoidismo e hipertensão.
Efeitos psíquicos. - Já que este exercício estimula a
tireóide, a glândula mais influente sobre o temperamento, sobre a
inteligência e comportamento, sua prática propicia mais brilho à
inteligência, maior vivacidade para trabalho, finalmente mais brilho ao
espírito.
E) Bhastrika.
Seu nome, Bhastrika, em sânscrito significa fole, que
bem dá uma idéia de como se processa. As melhores posições para a
pratica são as sentadas - pandmâsana ou lótus e sadhâsana, podendo
também ser feita em pé. Depois da limpeza pulmonar, faz-se puraka
(inspiração) e a seguir uma explosiva rechaka (expiração), mediante a
contração brusca da musculatura respiratória. Sem demora, outra puraka e
imediatamente outro rechaka. E assim onze movimentos energéticos do
diafragma e do abdômen com seus respectivos rechakas e purakas. O último
puraka é seguido de um kumbhaka que leva aproximadamente doze segundos,
durante os quais mantém-se jalandhara-bandha ou chave de queixo.
Segue-se suave rechaka final de seis segundos.
Os músculos abdominais e o diafragma atuam
energeticamente, movimentando a base do pulmão. O exercício é muito
semelhante ao kapalabhati, com a diferença de que lá apenas a expulsão
do ar é energética. Aqui também a inspiração o é.
É boa dosagem, em cada sessão, três "voltas" de onze
movimentos cada.
Como se trata de um dos exercícios mais fortes,
portanto capaz de provocar danos no praticante imprudente e abusado, é
recomendável que o evitem: a) pessoas enfermas e fracas; b) jovens de
menos de dezoito anos; e c) pessoas além dos 50. Para os que já têm
grande pratica, o limite de idade não será este, naturalmente. Todo
abuso e violência devem ser evitados. Moderação, suavidade, gradação
nunca são demasiados. Ao menor sinal de fadiga, pare e relaxe, fazendo a
respiração abdominal.
Benificios terapêuticos. - Purifica todo o organismo
e tem especial ação tônica sobre o sistema nervoso e aparelho
circulatório. Aumenta o apetite. Atenua irritação e inflamação das vias
respiratórias. Moderada e corretamente usado, tem até curado asma. Com
verdadeiro super abastecimento energético, corrige os efeitos do frio,
levando calor a todo o corpo. Os que sofrem de pés e mãos frios lucrarão
com a pratica de bhastrika.
Benefícios psicológicos. - "Psicologicamente,
bhastrika produz um muito notável aprofundamento da consciência. Aumenta
a serenidade e o sangue-frio ante qualquer situação e, em sumo grau,
fortalece a vontade".
F) Respiração de limpeza
Em pé, os pés uns 30 cm de afastamento, "limpe o
pulmão" e faça um puraka completo. A seguir, aperte os lábios de
encontro aos dentes, deixando uma fresta estreita na boca. A seguir, com
movimentos energéticos sacudidos e curtos dos músculos respiratórios
(abdominais, diafragma e entrecostais), force o ar a escapar através da
fenda formada com a boca. Se os músculos não fizerem bastante movimento
para forçar a passagem do ar, o exercício será inócuo.
Benefícios terapêuticos. - Na opinião de Yesudian
ataca as toxinas que se acham no sangue, curando as moléstias crônicas e
reforçando nossa imunidade. O ar impuro das salas mal arejadas (cinemas,
teatros, estações, ferroviárias) é expulso do pulmão e do sangue. Os
males da cabeça, os catarros, a gripe são rapidamente curados. Em épocas
de epidemias este exercício é indispensável, pois resguarda o contágio.
Neste caso é recomendado praticar três sessões de cinco "voltas" cada
dia. É bênção este exercício no caso de envenenamento por gás ou outro
agente".
Benefícios mentais. - Acresce-nos a autoconfiança e,
segundo Yesudian, é um "triunfo sobre a hipocondria", isto é, sobre a
obsedante sensação de estar doente.
G) O Sopro "HA"
É exercício respiratório de finalidade específica.
Seu nome não se refere, como poderia parecer, à corrente energética
positiva (HA) e sim à maneira de expirar.
Em pé, com as pernas afastadas, olhos fechados,
execute uma inspiração completa, levantando concomitantemente os braços
esticados para a frente e continue elevando-os até o mais alto que
puder. Mantenha um kumbhaka de uns poucos segundos e, a seguir, ao mesmo
tempo que energeticamente, abaixe o tronco e os braços relaxados,
empurre bruscamente o ar pela boca, de forma a soltar uma quase
explosiva sílaba hA (h aspirado, como termo inglês "home"), não pelo
aparelho fonador, mas pela passagem forçada e súbita da corrente de ar.
Repetir a inspiração da mesma forma indicada, expirando em seguida
lentamente pelo nariz. Conserve o pensamento firme sobre os efeitos
terapêuticos abaixo indicados.
O mesmo exercício pode ser feito deitado.
Deitado sobre as costas, executar o puraka
(inspiração completa) simultaneamente erguendo os braços esticados até
atingir o solo para trás da cabeça. Após ligeira retenção, fazer a
violenta expiração pela boca forçando o "HA", enquanto com energia
voltam os braços a sua posição inicial ao lado do corpo e as pernas
flexionam bruscamente até as coxas tocarem o abdômen. Depois de ligeiro
repouso, iniciar uma nova inspiração lenta, enquanto os braços
estendidos voltam para trás da cabeça e as pernas se esticam
verticalmente. O exercício termina com a lenta expiração nasal, com as
pernas e os braços retornando a seus primitivos lugares.
Benefícios Físicos. - Limpando completamente as vias
respiratórias, refresca a circulação sangüínea. É bom remédio contra
resfriados e contra extremidades (pés e mãos) frias.
Benefícios psicológicos. - Oferece uma purificação
para depois de termos estado em ambientes sórdidos, passionais,
deprimentes, para depois de nos termos contagiado psiquicamente em
companhia de pessoas confusas, pessimistas, viciadas, malévolas,
finalmente, indivíduos "carregados" de impurezas astrais. Constitui-se
um "tiro e queda" contra a depressão e o desânimo.
H) Respiração que tonifica os nervos.
De pé, pernas e pés juntos, olhos fechados, mente
firme, depois de completa limpeza, inicie lento puraka, levando os
braços estendidos para a frente, com as palmas das mãos para cima, até
atingir a linha dos ombros. Nesta altura deverá ter terminado a
inspiração e, então, mantendo kumbhaka (retenção), traga as mãos com
punhos cerrados aos ombros, flexionando energética e vivamente os
braços. Ainda mantendo a retenção, devolva os braços à posição anterior,
no entanto use de uma força tal que os faça tremer, como se estivesse
vencendo forte resistência. Tendo flexionado e esticado três vezes
seguidas os braços, expire lentamente, deixando-os simultaneamente
tombarem, enquanto o corpo relaxado flexiona um pouco para a frente.
I) Sitkari.
Sentado ou em pé, olhos fechados, depois da limpeza,
faça a inspiração completa, não pelo nariz, mas pela boca, tendo os
dentes cerrados e a língua a eles encostada. O ar varre as bochechas, o
céu da boca e a língua, refrescando a mucosa e enxugando a saliva.
Depois de curto kumbhaka, proceda ao rechaka, pelo nariz. Uma "volta"
consta de cinco respirações.
Benefícios fisiológicos. - Concorre para melhorar a
resistência ao calor e atenua a sensação de fome e de sede.
Efeito psíquico. - Combate a insônia.
J) Sitali.
Sentado ou em pé, olhos fechados para melhorar
concentração mental, feita a "limpeza", inspire pela boca, tendo os
dentes semi cerrados e entre eles a língua formando uma calha; faça um
curto kumbhaka e termine expirando normalmente pelas narinas. Depois de
uma "volta" de dez respirações, você se terá livrado da desagradável
sensação de garganta seca, melhorará de sua rouquidão e terá varrido a
mucosidade das amídalas.
L) Suryabhada-kumbhaka.
Trata-se de um sukha-purvak modificado em proveito de
resultados especiais. Depois de cada inspiração, passe a língua na fase
posterior dos dentes, recolhendo a saliva que deve ser deglutida.
Segundo Langue "esta deglutição mobiliza a musculatura da laringe e,
após a expiração, possibilita eliminar o ar estomacal". Conforme o mesmo
autor, depois de "voltas"de seis exercícios, a temperatura do corpo sobe
sensivelmente, por isso é este pranayama especialmente indicado para a
luta contra o frio. É igualmente eficaz contra aerofogia (flatulência).
Contentemo-nos com a variedade de exercícios acima
ensinados, já que nossa finalidade não é ainda o Yoga avançado. Alguns
deles, com finalidades específicas, podem ser praticados fora da sessão
diária de Hatha Yoga. Constituem uma espécie de farmácia e, como no caso
de uma farmácia, devemos tomar a sério a necessidade de usar sabiamente
aquilo de que precisamos, para que não tomemos veneno pensando que se
trata de remédio. Atenda às recomendações e jamais se esqueça de que
suavidade é a característica principal do Yoga.
Não se aventure a fazer os exercícios finais
sem que tenha antes atingido o completo domínio dos primeiros.
Este texto foi extraído do capitulo 2 do
livro
"AUTO PERFEIÇÃO COM HATHA YOGA" Hermógenes da Editora Record.
RESPIRANDO ENERGIA
Através da respiração nós não só
absorvemos o ar, mas junto com ele, a energia cósmica em uma de suas
formas mais facilmente assimiláveis. Níveis baixos de energia do nosso
corpo estão associados a baixos níveis de oxigenação.
Com alguns cuidados a sua respiração
rapidamente poderá incrementar a sua energia :
1 - Observe mais a sua respiração.
Falando com as pessoas, andando de carro, assistindo televisão, observe
sempre a sua respiração.
Ela deve ser sempre natural,
relaxada, mas profunda e abdominal.
Quando você inspira, o umbigo é
projetado para a frente demonstrando que todo o pulmão foi preenchido
pelo ar, impulsionando o diafragma para baixo.
Nesta forma de respirar, além de usar
toda a capacidade pulmonar, o diafragma massageia as vísceras
abdominais, intensificado o funcionamento delas.
Além disso, respirando assim, fará
com que o mecanismo de aspiração do sangue dos membros inferiores,
e do abdômen, através da veia cava inferior, torne-se mais forte,
melhorando a circulação.
2 - Procure ter uma atividade
esportiva que o force naturalmente a uma respiração mais efetiva. O
esporte obriga a respiração a ser mais forte e profunda. A atividade
escolhida não deve causar uma respiração esbaforida ou afoita.
Natação, caminhada, corrida leve e
ciclismo, são atividades ideais.
Os esportes podem ser úteis desde que
você se lembre de manter a respiração ritmada enquanto estiver fazendo o
exercício.
3 - Diversas vezes durante o dia,
pare o que estiver fazendo ou diminua o ritmo, para prestar a atenção em
sua respiração, fazendo uma série de respirações calmas e profundas.
4 - Procure fazer pelo menos duas
vezes ao dia o seguinte exercício: Pode ser feito a qualquer horário.
Comece pela manhã, quando o ar é melhor.
Tampe a narina esquerda com o dedo
indicador e expire todo o ar dos pulmões com a narina direita, então
mantendo o dedo indicador tapando a narina esquerda, inspire e segure
por um ou dois segundos.
Tampe agora com o mesmo dedo
indicador a narina direita, expirando o ar pela narina esquerda. Assim,
continue, inspire então e segure por um ou dois segundos.
Mantenha este ciclo por dois ou três
minutos, sempre mudando de narina.
Este exercício vai equilibrar o Yin e
o Yang dentro de seu corpo, dando um excelente balanceamento entre os
dois hemisférios, além de canalizar a energia do chakra da base em
sentido ascendente potencializando o chakra da cabeça e a força mental.
Aplique estes exercícios
diariamente por que a respiração equilibrada regulada e natural,
sintoniza você com o ritmo próprio da natureza.
O ritmo fundamental é o da
respiração.
Dr. Roberto César Leite -
do Livro "Super Energia" -